Profa. Dra. Valquíria Graia Correia apresenta palestra de abertura no Congresso de Inciação Científica com enfoque na realidade profissional para Pessoas Trans
O Congresso de Iniciação Científica – CIC, o Congresso de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – CIDTI e o Congresso de Iniciação Científica do Ensino Médio - CIC-EM são eventos realizados anualmente que têm como objetivo promover, discutir e divulgar os resultados dos projetos de pesquisas científicas e tecnológicas realizadas por estudantes de graduação da UFSCar e alunos do ensino médio da rede pública de educação.
O CIC 2025 será realizado em 21 e 22 de outubro de 2025, de forma presencial, nos 4 campi da UFSCar, já constando do calendário acadêmico.
A mesa de abertura da 31a edição do Congresso de Iniciação Científica, foi iniciada com a fala do Pró-Reitor de Graduação - Douglas Verrangia Correa da Silva, que destacou a importância da diversidade e a relevância da universidade como espaço de diálogo e de construção democrática. Em sua fala, refletiu sobre as crises contemporâneas — das verdades e pós-verdades às crises ambientais —, apontando as dificuldades de se alcançar consensos em temas como a emissão de carbono. Mencionou também as chamadas “crises narrativas”, que afetam desde a vacinação até a confiança na ciência. Douglas ressaltou que a universidade é o espaço onde essas tensões podem ser enfrentadas de maneira aberta, plural e respeitosa, reafirmando a importância da dissonância e do contraditório como fundamentos da democracia e da produção do conhecimento. Encerrou destacando que aquele momento simbolizava a culminância de um processo importante na instituição, que se mantém comprometida com a diversidade e com a escuta genuína das diferenças.
Em seguida, Pedro Sérgio Fadini - Pró-Reitor de Pesquisa, reforçou o compromisso da universidade não apenas com o ensino, mas também com a produção do conhecimento em suas múltiplas formas. Apontou a preocupação institucional com o avanço da ciência, tecnologia e inovação, mas também com as artes e o pensamento humanístico, que compõem a integralidade do saber universitário. Defendeu o papel da ciência na construção de uma sociedade crítica, capaz de combater o negacionismo e de fortalecer o pensamento científico em todas as esferas — acadêmica, profissional e cotidiana. Para ele, formar estudantes que exerçam o pensamento crítico é uma das maiores responsabilidades da universidade.
Na sequência, foi exibido um vídeo com a participação da Magnífica Reitora - Ana Beatriz de Oliveira, que enfatizou o caráter coletivo e descentralizado do trabalho que sustentou a construção do evento. Sua fala trouxe à tona o debate sobre o futuro da universidade, questionando visões restritivas que a reduzem a um espaço exclusivo de ensino ou de pesquisa. Bia defendeu que a pesquisa deve ser estimulada em todas as instituições e que o acesso à ciência precisa ser democratizado. Relembrou também os desafios enfrentados durante a pandemia e a importância da defesa da ciência e da soberania nacional, reafirmando a necessidade de que estudantes e cidadãos possam compreender, consumir e aplicar o conhecimento científico em sua vida cotidiana.
Em seguida, o coordenador da CIC, professor Felipe Vieira da Rocha - encerrou a mesa de abertura, na qual fez uma breve apresentação sobre a estrutura do Congresso, destacando sua abrangência e o papel da Iniciação Científica na formação acadêmica. Ressaltou a importância da IC para a permanência estudantil, tanto para bolsistas quanto para estudantes que desenvolvem pesquisas de forma voluntária, reconhecendo o esforço e a dedicação de todos os participantes.
O evento prosseguiu com a Palestra proferida pela Profa. Dra. Valquíria Graia Correia, intitulada "Transcendendo a jornada: entre a utopia e a realidade, numa perspectiva trans-centrada". Valquíria dividiu a palestra no que chamou de três atos, em uma rica interlocução entre as suas vivências pessoais e profissionais com a arte.
Primeiro Ato – A Estrada da Vida
Neste primeiro momento, Valquíria compartilhou trechos de seu memorial acadêmico e pessoal, relatando a trajetória desde o ensino fundamental, em 1997, quando cursava a 8ª série. Descreveu como, ainda na infância, já percebia um sentimento de inadequação de gênero, vivenciado em ambientes sociais e escolares marcados por repressão e ausência de acolhimento.
Mesmo diante de estímulos pontuais que a incentivaram a seguir nos estudos — como o bom desempenho escolar e o ingresso no “vestibulinho” —, enfrentou também desestímulos e barreiras simbólicas que dificultaram sua permanência e pertencimento. Essa primeira parte de sua fala foi marcada por emoção e pela lembrança das lutas silenciosas travadas no percurso educacional.
Segundo Ato – A Travessia
No segundo ato, Valquíria descreveu o período de transformação e descoberta de si, no qual iniciou o processo de afirmação de sua identidade de gênero e de reconstrução pessoal e acadêmica. Compartilhou os desafios vividos na busca por espaços de escuta e respeito, e o impacto das políticas afirmativas e da presença de coletivos universitários no fortalecimento de sua trajetória.
Enfatizou a importância de encontrar na universidade um ambiente que acolhe a diferença, que reconhece a dignidade das pessoas trans e que possibilita novas narrativas sobre pertencimento e cidadania. Mencionou o papel crucial da educação pública como instrumento de emancipação e transformação social, destacando que “a travessia se faz menos árdua quando há mãos estendidas”. No entanto, muitos foram as barreiras em instituições públicas e privadas, como um reflexo de uma sociedade transfóbica que compulsoriamente, conduz os corpos dissidentes para as margens de espaços de produção do conhecimento, bem como do mercado formal de trabalho.
Terceiro Ato – A Celebração da Existência
Encerrando sua fala, Valquíria apresentou o terceiro ato, dedicado à celebração da vida, da resistência e da esperança. A Professora destacou as experiências positivas que tem vivenciado na UFSCar e enalteceu as ações da Secretaria de Ações Afirmativas Diversidade e Equidade, organismo de fundamental importância para o reconhecimento, afirmação e valorização da diversidade. De acordo com a sua percepção, que já atuou em diversas instituições públicas de ensino superior, a UFSCar é um exemplo a ser seguido no campo de políticas para Pessoas Trans.
Valquíria também comentou sobre o seu envolvimento recente com a construção política, bem como sobre suas conquistas pessoais e coletivas, e refletiu sobre o significado de ocupar espaços que, historicamente, negaram a presença de pessoas trans.
Sua fala final foi um convite à escuta ativa e ao compromisso coletivo com a inclusão, afirmando que a diversidade não é um adendo à universidade, mas parte essencial de sua razão de existir.
Com emoção, agradeceu às pessoas que compõem a comunidade acadêmica e que têm contribuído para a construção de uma UFSCar mais plural, democrática e humana, com um agradecimento especial a Thiago Loureiro - Coordenador de Diversidade e Gênero da SAADE que também acompanhava o evento.
A plateia aplaudiu calorosamente, encerrando a mesa de abertura com um forte sentimento de pertencimento, inspiração e valorização da ciência, da arte e da vida em suas múltiplas expressões e possibilidades.