Formação docente na Unicamp ganha disciplina sobre diversidade sexual

Disciplina eletiva abordará representações sociais, subjetividades LGBTQIA+ e práticas pedagógicas contra a homotransfobia.


A Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) disponibilizará, a partir deste primeiro semestre de 2025, a disciplina “Sexualidade e Educação”, oferecida como componente eletivo para os cursos de licenciatura. Criada pelo professor doutor Ronaldo Alexandrino, do Departamento de Ensino e Práticas Culturais (DEPRAC), a disciplina propõe um espaço formal para o debate sobre diversidade sexual e ensino, estruturando uma abordagem acadêmica específica sobre o tema. O curso visa examinar a construção social da sexualidade e a constituição das subjetividades LGBTQIA+, considerando os impactos da exclusão e da violência simbólica. Além disso, problematiza o papel da escola na formação dos sujeitos sociais e discute seu potencial como espaço de promoção da vida.


As aulas ocorrerão às quartas-feiras, das 19h às 23h, na sala CB16 da Faculdade de Educação. Durante o semestre, três aulas abertas serão oferecidas à comunidade geral, contando com convidados de diversas áreas: Performatividade de gênero e educação – Com a drag queen e ex-BBB Dicesar e a professora doutora Heloísa de Matos Lins. Transmasculinidades – Com Luiz Fernando Prado Uchôa e Erick Barbi, incluindo o lançamento do livro Simplesmente homem: relatos sobre a experiência cotidiana de homens trans. Políticas públicas educacionais e as questões LGBTQIAPN+ – Com o deputado estadual Guilherme Cortez e a vereadora de Campinas Paolla Miguel. Resistência e desafios na abordagem da sexualidade na educação A implementação da disciplina ocorre em um cenário no qual discussões sobre gênero e sexualidade têm sido sistematicamente evitadas no ambiente educacional brasileiro. Desde 2012, quando o governo federal rejeitou o Projeto Escola Sem Homofobia – conhecido popularmente como “kit gay” –, temas ligados à diversidade sexual passaram a ser tratados com resistência, apesar da inexistência de impedimentos legais para sua abordagem nos currículos escolares. O receio de retaliações e o avanço de práticas excludentes impactaram diretamente a formação docente, afastando a temática dos cursos de licenciatura, mesmo diante da necessidade crescente de abordá-la nas escolas. A proposta da disciplina busca romper com esse silenciamento, oferecendo subsídios para minimizar a reprodução de práticas homotransfóbicas no ambiente educativo. Fundamentação acadêmica e bibliografia de referência A disciplina se estrutura a partir da Teoria das Representações Sociais, compreendendo a sexualidade como uma construção sociocultural. O curso também promove uma análise crítica da escola, identificando-a como reprodutora de normas heterocisnormativas e, ao mesmo tempo, como um espaço com potencial para a transformação social. Os principais eixos temáticos do curso incluem: História da sexualidade no mundo ocidental A Teoria das Representações Sociais Sofrimento psíquico LGBTQIAPN+ e produção de subjetividades Práticas homotransfóbicas e as relações de poder Identidade e diferença A negação da discussão das temáticas LGBTQIAPN+ no ambiente educativo A escola como espaço de reprodução e manutenção da homotransfobia Análise e proposições de práticas pedagógicas para além da homotransfobia A bibliografia do curso reúne obras clássicas e estudos contemporâneos sobre a temática, incluindo autores como Michel Foucault (História da sexualidade I: A vontade de saber), Tomaz Tadeu da Silva (Identidade e diferença) e João Silvério Trevisan (Devassos no paraíso), além de pesquisas recentes sobre homofobia no ambiente educacional e a produção de subjetividades LGBTQIA+.

Fonte: https://gay.blog.br/educacao/formacao-docente-na-unicamp-ganha-disciplina-sobre-diversidade-sexual/

Acesso em: 13 de março de 2025.