Entre retomadas e [re]existências: a participação da Universidade, sociedade civil e poder público na reativação do Conselho Municipal de Diversidade Sexual de São Carlos

No dia 18 de novembro de 2025, o município de São Carlos vivenciou um momento significativo: a solenidade de posse do Conselho Municipal de Diversidade Sexual, realizada no Paço Municipal.

 

Trata-se de um marco que merece amplo destaque, especialmente por representar o resgate de um dispositivo fundamental para a formulação e o acompanhamento de políticas públicas voltadas à população LGBTQIAPN+, que permaneceu inativo por mais de um ano e meio. A retomada do Conselho não ocorreu de forma espontânea, mas foi resultado da atuação comprometida de diversos atores e atrizes da sociedade civil e das universidades — com especial protagonismo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

 

As universidades sediadas em São Carlos desempenharam papel central no processo de recomposição do Conselho, contribuindo para a mobilização social e para a pressão sobre os dispositivos institucionais do poder público municipal. A VI Conferência Municipal de Direitos das Pessoas LGBTQIAPN+, realizada em 20 de setembro de 2025, foi determinante nesse percurso, uma vez que nela foram eleitas as pessoas que atualmente compõem o Conselho. A presidência é exercida por Ângela Lopes — Assistente de Gestão de Pessoas na Fundação de Apoio Institucional da UFSCar e Conselheira no Conselho Universitário da instituição — cuja trajetória é amplamente reconhecida pela atuação contínua na defesa dos direitos da população LGBTQIAPN+.

 

É fundamental ressaltar o percurso político e coletivo que tornou possível a reativação do Conselho, bem como a relação dialógica, intrínseca e permanente entre o conhecimento produzido nas universidades e as experiências construídas no âmbito da sociedade civil. Nos últimos anos, a UFSCar tem acumulado avanços expressivos na pauta LGBTQIAPN+, entre os quais se destacam duas políticas institucionais de grande relevância:

 

Política de Identidade de Gênero, aprovada por aclamação pelo Conselho Universitário em agosto de 2024;

 

Política de Acesso e Permanência para Pessoas Trans na Graduação da UFSCar, aprovada em 2025 – também por aclamação no Conselho Universitário - resultado de um processo aprofundado conduzido por um grupo de trabalho composto por representantes da universidade e da sociedade civil.

 

 

Nesse contexto, destaca-se também o papel estratégico da Secretaria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (SAADE) — especialmente por meio de sua Coordenadoria de Diversidade e Gênero, atualmente coordenada por Thiago Loureiro e Natália Rejane Salim, contando ainda com a colaboração voluntária do pesquisador Arthur de Bribean Guerra. Assim como o Conselho Municipal de Diversidade Sexual, a SAADE passou recentemente por um processo de resgate e fortalecimento institucional, cujos impactos já são perceptíveis em toda a comunidade universitária.

 

Os avanços aqui mencionados também contaram com a contribuição ativa dos movimentos sociais organizados, como o Diretório Central de Estudantes (DCE) e, de maneira especial, o Coletivo de Pessoas Trans da UFSCar – GT Transformar, além de pessoas aliadas da sociedade civil. Trata-se de uma relação de troca contínua e de mão dupla entre universidade e poder público municipal, fortalecida pelo engajamento coletivo, pela produção de conhecimento crítico e pela mobilização social.

 

Cabe ainda destacar que a maioria das pessoas que atualmente integram o Conselho Municipal de Diversidade Sexual possui ou já possuiu algum vínculo com a UFSCar — seja como estudantes, pesquisadoras, servidoras ou colaboradoras. Esse dado reforça a importância da articulação entre as políticas públicas e o que é pensado, debatido e construído no espaço universitário, sobretudo a partir do protagonismo direto de pessoas LGBTQIAPN+.

 

Tomaram posse como conselheiras e conselheiros titulares:

 

Ângela Lopes — Assistente de Gestão de Pessoas na Fundação de Apoio Institucional da UFSCar, Conselheira no Conselho Universitário, transativista, transfeminista e membra do GT Transformar.

 

Arthur de Bribean Guerra — Pessoa transmasculina, educador e engenheiro de materiais, doutor em Ciências e Engenharia de Materiais, pesquisador de pós-doutorado na UFSCar, membro do GT Transformar e militante pelos direitos das pessoas trans, com ênfase no acesso à saúde.

 

Valquíria Graia — Mulher trans, doutora em Química Orgânica, professora do Departamento de Química da UFSCar, membra do GT Transformar e militante da causa trans.

 

Enayton Lucas Perassoli Silveira — Pedagogo pela UFSCar, mestrando em Educação pelo PPGE/UFSCar, pesquisador nas áreas de Educação, Gênero e Sexualidade, com foco na prevenção da LGBTfobia em contextos educativos, escritor e membro do Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (NIASE/UFSCar).

 

José Carlos Bastos Júnior — 37 anos, Analista documental da Câmara Municipal de São Carlos, bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade, licenciado em Pedagogia pela UFSCar, ativista animalista, vegetariano e um dos idealizadores da Frente Parlamentar LGBTQIAPN+.

 

 

Como suplentes:

 

Larissa Brisolla (Lari Brisa) — Mulher negra, cisgênero e bissexual, estudante de Ciências Sociais, representante discente em conselhos, coordenadora da Juventude Manifesta, candidata a vereadora pelo PSOL em 2024, atual coordenadora geral do DCE Livre UFSCar e integrante da Frente Parlamentar LGBTQIAPN+.

 

Marco (Madeira) Donizete Paulino da Silva — Bibliotecário, ator, diretor, dramaturgo e roteirista, mestre e doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade, com ampla atuação em ações culturais e movimentos em defesa dos direitos civis.

 

Emerson Pavani — Homem gay cisgênero, estudante de Gestão Pública, militante dos direitos das pessoas LGBTQIAPN+ e presidente da APOLGBT São Carlos há sete anos.

 

Eduardo Carvalho — Advogado, estudante de Filosofia da UFSCar.

 

 

Celebramos, assim, não apenas a posse do Conselho Municipal de Diversidade Sexual, mas também o fortalecimento de uma articulação fundamental entre a amálgama universidade-sociedade civil-e-poder público — condição indispensável para o avanço contínuo, democrático e consistente dos direitos da população LGBTQIAPN+ no município de São Carlos.